sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tropeçavas nos astros desastrada

Agora, toda quarta-feira eu escrevo na Biblioteca do Mundo do Saturnália, um site de astrologia lá de Curitiba. Não faço previsões nem amarração do amor, a não ser que o amor se amarre nesse meu jeito de corpo. É uma coluna fixa sobre literatura, mais ou menos nos moldes do que eu escrevo aqui, mas - até agora - com menos pretensão teórica.

Dizem que quando o Guimarães Rosa morreu, e ele lia até Platão no original, esperavam uma biblioteca eruditissíssima na casa dele. Mas nas prateleiras vazias só havia um manual de astrologia.

Que era um saber erudito antes de virar revista barata em banca de jornal. Faz sentido. Imagine quem seria capaz de ler os textos clássicos, ao menos os renascentistas, tanto latim pra pouca gente. As estrelas falam de nós, mas não nos compreendem. Astrologia é um trabalho de tradução e um saber sobre o tempo. Gosto muito de uns versos simples da Orides Fontela: "tudo / se move". É o final de um poema.

E tem o final lindo do Inferno de Dante. Quando ele e Virgílio passam por Lúcifer, que é o mais fundo do inferno, o ralo. E do lado de baixo do Diabo aparecem aos pés da montanha do Purgatório: "E quindi uscimmo a riveder le stelle". E então saímos, a rever as estrelas.

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Ligando os estudos astrológicos aos literários, vejo dois caminhos principais. Me parece que o estudo dos arquétipos seja o mais óbvio. Bachelard diz que o arquétipo é um convite à ação - e não uma imagem estagnada, como a gente também pode pensar. Como "convite à ação", Vênus é um movimento, um ritmo, mais do que um conceito. Sendo assim, a estrela Vésper da obra de Manuel Bandeira poderia ser um lumiar para a leitura de seus poemas.

(Não entendo isso, mas é o que tem pra hoje.)

O outro caminho seria o de unir o tempo astrológico ao da historiografia literária, percebendo as convergências (e os hiatos?) entre algumas obras e movimentos artísticos e os movimentos dos astros. A astrologia como marcação temporal da história.

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Minha intenção não é trilhar nada disso. Agora agorinha mesmo nem intenção tenho. Às quartas-feiras estou aprendendo muito. A coluna se chama Prateleira Mercúrio.

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