segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Lucíola, de José de Alencar

Lido dez anos depois, sem a obrigação escolar, o que eu não tinha percebido ou não lembrava: é gostoso de ler.

Gostoso = sem encontrões. A leitura é fluida, monótona.

O único incômodo é o de encontrar uma realidade tão absurda, o Rio de Janeiro do século 19, sem sunga, sem violência urbana, até sem escravidão. Homens e mulheres elegantes entretidos em suas próprias relações monogâmicas, heterossexuais, em que tudo se deve a si mesmo, à pessoa ao lado, à sociedade e a Deus sobre todas as coisas. Esse conforto instalado no absurdo me faz ter a impressão de estar lendo um romance surrealista, e isso me diverte.

*

A palavra prostituta não é dita. Puta muito menos. Lúcia é cortesã.

Gabriela Leite em discurso na Câmara Municipal do Rio de Janeiro:  "Puta, para as pessoas, é nada, não chega nem a ser mulher. Eu gosto muito da palavra puta, porque eu quero que um dia essa palavra se torne uma palavra bonita. Porque você não faz movimento nenhum se escondendo debaixo da mesa".

A cortesã de Alencar é diferente da puta de Gabriela. Lúcia é narrada na terceira pessoa. Gabriela é uma puta que fala.


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