Nós entramos com frio pra ver a exposição de Sophie Calle no SESC Pompeia e o frio aumentou. Sophie recebeu um email de seu homem rompendo o relacionamento. Aí ela pegou esse email e mandou pra um monte de mulheres pedindo que elas o interpretassem segundo suas profissões.
A colunista social escreve uma nota de fofoca, "a artista plástica Sophie Calle recebeu um email...". A linguista sublinha os verbos e faz uma transcrição fonética. A atriz interpreta, e por aí vai.
Cada interpretação do email está presa à pessoa que o interpretou - e cada pessoa está presa a si mesma. Disso resulta uma pobreza discursiva constrangedora. Pois não se pode esperar mais além do que já se tem. Se a motivação do trabalho de Sophie Calle é uma carta de amor, então o nosso amor é assim tão previsível e profissional?
A colunista social escreve uma nota de fofoca, "a artista plástica Sophie Calle recebeu um email...". A linguista sublinha os verbos e faz uma transcrição fonética. A atriz interpreta, e por aí vai.
Cada interpretação do email está presa à pessoa que o interpretou - e cada pessoa está presa a si mesma. Disso resulta uma pobreza discursiva constrangedora. Pois não se pode esperar mais além do que já se tem. Se a motivação do trabalho de Sophie Calle é uma carta de amor, então o nosso amor é assim tão previsível e profissional?
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Um outro francês que deu pra falar de amor foi Roland Barthes. Partindo do pressuposto bakhtiniano de que nenhum discurso é original, toda fala já foi falada antes, Barthes compilou nos Fragmentos de um discurso amoroso os lugares (linguísticos) comuns do amor moderno. O que se diz quando se diz "eu-te-amo"? E Barthes retira trechos de obras literárias como o Werther, de Goethe, para mostrar que o "eu-te-amo" que a gente diz já foi dito há três séculos, não é nada de novo.
Dizer eu te amo depende de muita coisa para ser um vácuo de contato ou o nirvana impossível dos corpos, entre tantas possibilidades. Os trabalhos de Barthes e de Sophie Calle são catálogos dessas possibilidades. Do amor catalogável.
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Dizer eu te amo depende de muita coisa para ser um vácuo de contato ou o nirvana impossível dos corpos, entre tantas possibilidades. Os trabalhos de Barthes e de Sophie Calle são catálogos dessas possibilidades. Do amor catalogável.
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marcos,
ResponderExcluira exposição da sophie calle é mesmo um horror e eu fico contente que vc tenha se recuperado da gripe com a bebedeira eu tb não deixei aquela tristeza cínica me comer
pasto pasto pasto
quanto ao roland barthes, não concordo, acho que é ligá-los por um ponto comum, mas vou te dizer, o "fragmentos de um discurso amoroso" parte de um princípio de catalogação absurda mas tanto ele sabe que o discurso por si só flutua, como eu acho que ele tem a auto-ironia e a reflexão do que é corrente, do que não é não.
acho um livro muito bonito.
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duas vezes me aconteceu que... eclipse oculto é uma música que eu vou ter que te contar a história por outro lugar
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e eu se ouço essa tulipa fico com ela na cabeça o dia inteiro
bacci!
julieta,
ResponderExcluireu tentei não dar juízo de valor no barthes, mesmo porque sempre gostei mas agora tou vendo com olhos sujos de sophie calle calha que é questão de método mesmo os franceses que nunca entenderam absolutamente nada
e a tulipa não fica que fica, mesmo?
beijo =)
nada absolutamente nada/ hoje não tem fernando pessoa/ tem é casa em Lisboa!
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