A Liberdade pra mim ainda é desses bairros em que as coisas somem e reaparecem, aqui como por mágica, lojas e restaurantes que nunca estão onde você os deixou. É também o único lugar de São Paulo que me arrisco a chamar de cosmopolita, pois a pose oriental que se fabrica aqui caminha tão perto da multidão de estrangeiros que vira uma pose autêntica (diferente do neoclassicismo da Faria Lima, das catedrais frustradas da Paulista, da clandestinidade desavergonhada dos Campos Elíseos). Andando pela Liberdade eu me sinto tão nativo quanto estrangeiro, dominando uma parte dos códigos sociais ao mesmo tempo em que me sinto refém da outra, temeroso de cometer gafes que me exponham como forasteiro.
É nesse cenário, e mais ou menos esse sentimento, em que aparece o romance O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho. Dos restaurantes misteriosamente escondidos nas poucas e pequenas ruas do bairro, surge uma história em que o simulacro se desdobra em simulacros e, nesse velamento multiplicado, a verdade aparece possível.
São Paulo é uma cidade que ainda não foi escrita, senão pelas beiradas. O maquinário dos poetas concretos, a ginga asfaltada dos poetas da periferia, a geléia tropicalista, o punk rock, o lirismo pedante dos mários de andrade - apenas partes, instantâneos dessa cidade - que, talvez, não tenha um todo.
Bernardo Carvalho, escrevendo a Liberdade, escreveu uma parte de São Paulo que estava faltando nesse quebra-cabeça: a arquitetura japonesa que não foi construída, mas que está escondida atrás dessas fachadas de arquitetura japonesa.
É nesse cenário, e mais ou menos esse sentimento, em que aparece o romance O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho. Dos restaurantes misteriosamente escondidos nas poucas e pequenas ruas do bairro, surge uma história em que o simulacro se desdobra em simulacros e, nesse velamento multiplicado, a verdade aparece possível.
São Paulo é uma cidade que ainda não foi escrita, senão pelas beiradas. O maquinário dos poetas concretos, a ginga asfaltada dos poetas da periferia, a geléia tropicalista, o punk rock, o lirismo pedante dos mários de andrade - apenas partes, instantâneos dessa cidade - que, talvez, não tenha um todo.
Bernardo Carvalho, escrevendo a Liberdade, escreveu uma parte de São Paulo que estava faltando nesse quebra-cabeça: a arquitetura japonesa que não foi construída, mas que está escondida atrás dessas fachadas de arquitetura japonesa.