Encontrei a Júlia na biblioteca, um dia, e ela me diz "já leu o Coetzee? Desde que li Machado de Assis é o único autor que eu quero ler tudo!". E ela tinha acabado de comprar o Desonra em inglês, porque aqui os livros importados são mais baratos que os nacionais.
Acho que se passaram alguns meses ou talvez uns dois anos e um dia, trabalhando na casa dela, eu queria ler um romance, pedi. Ela me olhou torto e riu ("romance?!"), passou os dedos nas lombadas e acabou me dando este Vida e Época de Michael K, edição nacional mesmo.
É um texto duro, com uma guerra e um homem bobo de lábio leporino, uma mãe à morte e muitos soldados e refugiados sem refúgio. Falando assim a gente lembra "realismo social" das aulas de literatura. É mesmo uma história, sem os tiques metalingüísticos daquela literatura que corre em volta do próprio rabo. É um livro que late - não, é um livro que rosna. Não tem alarde. Duro.
Duro, sem piadas, inscrito no trágico. Mas um trágico tão patético que a gente fica se sentindo até envrgonhado de estar lendo. (Felizmente há um destaque "Prêmio Nobel" na capa, e isso dá muito orgulho no metrô e auto-satisfação deitado na cama sozinho). E não é um livro de epígrafes, então é como mastigar arroz e engolir, sem ninguém em volta.
Com o Machado de Assis a gente morde a língua, ou põe pimenta, ou cospe sem querer um grão pro copo de suco, ou então pensa em alguma coisa e dá risada sozinho. Com o Michael K, no máximo, o gosto na boca perde o sabor, o que faz a gente perder a fome e ficar um pouco triste, na barriga, em tons pastéis.
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Acho que se passaram alguns meses ou talvez uns dois anos e um dia, trabalhando na casa dela, eu queria ler um romance, pedi. Ela me olhou torto e riu ("romance?!"), passou os dedos nas lombadas e acabou me dando este Vida e Época de Michael K, edição nacional mesmo.
É um texto duro, com uma guerra e um homem bobo de lábio leporino, uma mãe à morte e muitos soldados e refugiados sem refúgio. Falando assim a gente lembra "realismo social" das aulas de literatura. É mesmo uma história, sem os tiques metalingüísticos daquela literatura que corre em volta do próprio rabo. É um livro que late - não, é um livro que rosna. Não tem alarde. Duro.
Duro, sem piadas, inscrito no trágico. Mas um trágico tão patético que a gente fica se sentindo até envrgonhado de estar lendo. (Felizmente há um destaque "Prêmio Nobel" na capa, e isso dá muito orgulho no metrô e auto-satisfação deitado na cama sozinho). E não é um livro de epígrafes, então é como mastigar arroz e engolir, sem ninguém em volta.
Com o Machado de Assis a gente morde a língua, ou põe pimenta, ou cospe sem querer um grão pro copo de suco, ou então pensa em alguma coisa e dá risada sozinho. Com o Michael K, no máximo, o gosto na boca perde o sabor, o que faz a gente perder a fome e ficar um pouco triste, na barriga, em tons pastéis.
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