Na última grande viagem que fiz sozinho, levei poucos livros. O ônibus demorou dois dias e meio pra atravessar o sul do Brasil, os pampas argentinos, subir e descer os Andes e chegar a Santiago. Nesse trajeto li O velho e o mar, do Hemingway. Uma edição de bolso em inglês com uma capa xurumbrega. Gostei de uma imagem do texto que dizia algo sobre tartarugas sendo mortas de modo cruel, parece que se lhe cortam os membros e ela continua viva e doendo. O narrador comparava o velho à tartaruga, mas não lembro de que jeito. Na mesma viagem, na volta, li num conto do Cortázar e achei bonito:
TORTUGAS ANIMALES DELICADOS. ALGO TONTOS, NO DISTINGUEN. UNA LASTIMA.
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Levei também o Invenção de Orfeu, do Jorge de Lima. Cada vez que eu pego nesse livro, tenho a impressão de que é, sei lá, o maior livro de poesia brasileira do século XX, um rótulo assim. O-maior-acontecimento-místico-ao-lado-do-Mensagem-de-Fernando-Pessoa. Muito denso e malucão. Mas não consigo ler porque a minha edição é muito ruim, pequenininha gorducha espremida nela mesma, e esse é um livro de e s p a ç o s . São dez cantos ao todo, acho, e eu ainda não consegui passar do IV.
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Agora estou lendo o Auto de Fé, do Elias Canetti. Mas não é um livro bom pra levar em viagens: muito grande, pesa na mochila. E parece que a estória se passa dentro de uma biblioteca. Que quero eu com bibliotecas? Pegar avião, caçar borboleta.