1.
Maiakóvski sabia que Klébnikov não era pra todo mundo. E escreveu mais precisamente:
Klébnikov, força dinamitante da palavra, não é para o leitor que não esteja interessado em construir com os escombros e entulhos dessa explosão. Porque quem vê a explosão sem o exercício da historicidade estará de mãos vazias. E é inadimissível uma leitura alienada da experiência artífice.
Para Maiakóvski (que era poeta de Estado, e não para o Estado. Um poeta pelo Estado - porque o Estado são todos) o leitor não é um concorrente, não é o filho-da-puta que é para todo o resto da tradição moderna. Não tem hipocrisia: o leitor é camarada de barricada e fruição.
2.
Mesmo os escritores mais generosos são amargos para se dirigirem ao seu público. A hora da estrela (paradigma) está cheio de alfinetadas de raiva - "(Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha. Se der para me entenderem, está bem. Se não, também está bem.".
3.
Alguém me ajuda a pensar, por favor!
4.
Estou lendo o livro A literatura em perigo /// lucidez. A começar pelo final da quarta capa, que é o cartão-de-visita do livro.
Tem que morar.
Pode ser o operante no capitalismo contemporâneo. A ênfase no consumo joga a produção para debaixo do tapete. A produção não deixa de existir, mas ela se reduz ao escasso e está cercada de tanto autoritarismo explícito que é bem pouco charmoso você querer produzir.
5.
Pasolini defendia aos berros que a chamada "democratização da escola" era na verdade despida de bondades, destinada à padronização dos modos de vida, e o triunfo fascista aos sorrisos, vitoriosa naquilo que os fascistas carrancudos fracassaram.
Todorov, no livro acima citado, pode reforçar esse argumento ao dizer que "a concepção redutora da literatura não se manifesta apenas nas salas de aula ou nos cursos universitários; ela também está representada de forma abundante entre os jornalistas que resenham livros, e mesmo entre os próprios escritores. Devemos nos espantar? Todos esses passaram pela escola. (...) Numerosas obras contemporâneas ilustram essa concepção da literatura; elas cultivam a construção engenhosa, os processos mecânicos de engendramento do texto, as simetrias, os ecos e os pequenos sinais cúmplices".
O que resta é. O que resta?
6.
o príncipe
Sonhei com alguém pra me proteger
ele cortava o mato de uma clareira
e eu a cada dia mais perto das ervas rasteiras.
Ao topo de toda a minha época herói de mim mesmo revigoro:
acredito que existam intimidade, calor e frio,
o estômago é o novo coração e o coração é o novo leão.
(Júlia de Carvalho Hansen)
Maiakóvski sabia que Klébnikov não era pra todo mundo. E escreveu mais precisamente:
Se um livro se destina apenas a uns tantos e para seu exclusivo consumo e se, além disso, não tem qualquer outra finalidade, é sem dúvida alguma inútil. (...)
Mas se um livro se dirige a alguns - da mesma maneira que a energia do Volkstoi se transmite a umas tantas subestações que distribuem depois a energia transformada na corrente elétrica - é sem dúvida alguma útil.
Livros destes dirigem-se, na verdade, a um número reduzido de produtores, não de consumidores.
(do texto "Os operários e os camponeses não vos compreendem")
Klébnikov, força dinamitante da palavra, não é para o leitor que não esteja interessado em construir com os escombros e entulhos dessa explosão. Porque quem vê a explosão sem o exercício da historicidade estará de mãos vazias. E é inadimissível uma leitura alienada da experiência artífice.
Para Maiakóvski (que era poeta de Estado, e não para o Estado. Um poeta pelo Estado - porque o Estado são todos) o leitor não é um concorrente, não é o filho-da-puta que é para todo o resto da tradição moderna. Não tem hipocrisia: o leitor é camarada de barricada e fruição.
2.
Mesmo os escritores mais generosos são amargos para se dirigirem ao seu público. A hora da estrela (paradigma) está cheio de alfinetadas de raiva - "(Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha. Se der para me entenderem, está bem. Se não, também está bem.".
3.
Alguém me ajuda a pensar, por favor!
4.
Estou lendo o livro A literatura em perigo /// lucidez. A começar pelo final da quarta capa, que é o cartão-de-visita do livro.
Uma concepção estreita da literatura, que a desliga do mundo no qual ela vive, impôs-se no ensino, na crítica e mesmo em muitos escritores. O leitor, por sua vez, procura nos livros o que possa dar sentido à existência. E é ele quem tem razão.Os grifos são meus. É que quando eu comecei a escrever este texto eu estava pensando num argumento de fundo que seria, mais ou menos, a sensação de termos hoje muitos escritores querendo dinamitar tudo e poucos querendo construir. Tem mais escombros que cidades. (Caetano Veloso canta: Everybody knows that our cities were built to be destroyed). Mas temos que contruir cidades.
Tem que morar.
Pode ser o operante no capitalismo contemporâneo. A ênfase no consumo joga a produção para debaixo do tapete. A produção não deixa de existir, mas ela se reduz ao escasso e está cercada de tanto autoritarismo explícito que é bem pouco charmoso você querer produzir.
5.
Pasolini defendia aos berros que a chamada "democratização da escola" era na verdade despida de bondades, destinada à padronização dos modos de vida, e o triunfo fascista aos sorrisos, vitoriosa naquilo que os fascistas carrancudos fracassaram.
Todorov, no livro acima citado, pode reforçar esse argumento ao dizer que "a concepção redutora da literatura não se manifesta apenas nas salas de aula ou nos cursos universitários; ela também está representada de forma abundante entre os jornalistas que resenham livros, e mesmo entre os próprios escritores. Devemos nos espantar? Todos esses passaram pela escola. (...) Numerosas obras contemporâneas ilustram essa concepção da literatura; elas cultivam a construção engenhosa, os processos mecânicos de engendramento do texto, as simetrias, os ecos e os pequenos sinais cúmplices".
O que resta é. O que resta?
MASSACRE
Eram mil a atacar
o só objeto
indefensável
e pá e pé e ui
e vupt e rrr
e o riso passarola no ar
grasnando
e mil a espiar
os alfabetos purpúreos
desatando-se
sem rota
e llmn e nss e yn
eram mil a sentir
que a vida refugia
do ato de viver
e agora circulava
sobre toda ruína
(Drummond)
6.
o príncipe
Sonhei com alguém pra me proteger
ele cortava o mato de uma clareira
e eu a cada dia mais perto das ervas rasteiras.
Ao topo de toda a minha época herói de mim mesmo revigoro:
acredito que existam intimidade, calor e frio,
o estômago é o novo coração e o coração é o novo leão.
(Júlia de Carvalho Hansen)
vida e morte de kk
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