Mas só à base de romances nenhum espírito consegue evoluir. O prazer que tal leitura pode oferecer não compensa o desgaste do caráter. Com os romances aprendemos a nos meter nos sentimentos de toda espécie de gente. Facilmente, convertemo-nos nos personagens que nos agradam. Todo e qualquer comportamento passa a ser compreensível. Docilmente, entregamo-nos a propósitos alheios, e assim perdemos de vista, por muito tempo, os nossos próprios. Romances são cunhas que o autor - um comediante que escreve - faz penetrar na personalidade de seus leitores. Quanto mais exatos seus cálculos sobre o tamanho da cunha e a capacidade de resistência, maior a fenda na personalidade.
(Elias Canetti, Auto-de-fé)
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(o personagem que pensa isso é um moralista. Mal da citação, que tira de contexto e transforma um lampejo num axioma. Uma meia-mentira numa verdade completa. A última frase desse parágrafo é "Os romances deveriam ser proibidos pelo Estado", que, se literariamente não tem nada de genial, tirada da situação desse romance se transforma num desses pedantismos reacionários disfarçados de performance. Ficção, fora da ficção. A gente deveria parar de citar e dizer só o que se diz. A citação é um esconderijo. A não ser quando ela é um raio.)
e eu pensando na cama quase dormindo tendo que trocar a leitura de um romance por um texto teórico, isso essa semana inteira, até fevereiro, que como me violentam as idéias! os romances crescem como flores nos umbigos, aaaah maravilha da ficção, aaah hibernem-me com comidas, amigos, sexo, e livros, e discos, aaah quanta coisa que eu preciso! aaaah
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