domingo, 5 de outubro de 2008

Só lendo

.
a faculdade de letras me viciou.
poesia não é pra ser chata
perdoai
(só) hoje eu acredito
(sei não)
que não ser chata
é o único antídoto
pra chateação



Isso depois de ter lido o Rilke Shake, da Angélica Freitas (Rio de Janeiro: 7Letras, 2007) - do qual eu já tinha muito falado, mas nunca lido comprado, agora sim, de que mais adiantaria um salário?

Porque a Angélica eu conheci de orelhada quando ela morava em São Paulo eu tinha acabado de mudar e ela me escreveu no orkut "vai ler o uivo do ginsberg" eu li fiquei grato e resolvi ter uma boa impressão dela até hoje.

O que não tem nada a ver com o Rilke Shake, porque de boas impressões o tédio está cheio, não é esse o caso. O blog dela é muito legal, sempre recomendei, mas não, o caso ainda não é esse.

Senti enquanto lia o livro no ônibus - como senti quando li o A teus pés pela primeira vez - como um banho de menta e alecrim nos olhos, lavando e fresh! Diferente ler espaçado a história do moço do Stradivarius. Diferente ler com comments o love affair de Gertrude Stein. E, entre os posts, os relatos de poeira no pé que a Angélica vai deixando pelo caminho (ela agora está no México?).

O livro duro na mão é um bloquinho de alegria sacolejando comigo no busão. São trocentos poemas para ser leídos en el transvía - uma masturbação urgente de tesão no transporte público. Não, não é nada de poesia. É diversão. Precisa mais?



As leituras interceptadas. Muito do que eu já tinha lido do Rilke Shake foi trilhado por artiguelhos críticos [ca-han] que falavam de intertextualidade, de crítica social, ao machismo, make-it-new e o escambau. Só no livro em mãos é que dá pra ler, no fluxo, que

As bruxas de Bruxelas
batem panelas
pra espantar as baratas tontas
que vivem nas pontas
dos sapatos delas


, coisa que eu não sabia.

Esse livro é um objeto gostoso de ser folheado e conversado. E mais uma vez eu fico agradecido à Angélica: obrigado.


.

Um comentário:

  1. vacas aparando a grama
    galinhas arregaladas
    galos em estacatos

    abriremos a janela toda

    (Angélica Freitas, em Rilke Shake)

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