quarta-feira, 7 de outubro de 2009

alheava (1)

A memória da dor / é muito do que se diz e que circula por aqui. Bastante gente diz que os quatrocentos anos de escravidão, os quinhentos de matança de índios, os cem de república policial. Que a tortura durante o regime militar de 1964. Que é possível que o trauma / esse íntimo incognoscível e doloroso da psicanálise /que o trauma possa ser coletivo. E o tratamento para o trauma / desejo de Saúde / é o rasgo dos discursos, Pandora abrindo a caixa no divã. Ou nas artes.

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As metáforas hospitalares deixam-nos doentes do passado. Um trauma é encalacrado como tumor. Se coletivo, nós vivemos a metástase.

Caso as metáforas sejam reversíveis / com o projeto alheava, de Manuel Santos Maia, me ocorre pensar que a alegria pode ser uma ação de busca de um presente perdido no passado.

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Qualquer busca implica um movimento. E todo movimento, por ser o oposto da melancolia (desencanto com o passado, medo do futuro, tristeza no presente, ação paralisada), já tem em si um princípio de alegria.





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Já que em 2016 haverá Olimpíadas no Rio de Janeiro, é legal que a gente considere que o Estado-Nação está nos nossos corpos / assim como nos documentos / mas também no nosso afeto. Um dos divertimentos da psicanálise é dissecar o sonho / historiciza os símbolos / e ninguém há de depor contra o materialismo histórico que como prática de pensamento não só é de muita valia contra o despotismo teocrático como é inerente à organização social burguesa que conta os segundos como moedas.

Mas se a gente novamente conseguir retroceder na análise / e tentar entender, antes, o amor dos lápis de colorir.

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