sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Coração das trevas, de Joseph Conrad (1)

Na teoria de Walter Benjamin, há dois protótipos de narrador: um é o velho, aquele que viajou grandes distâncias no tempo; outro, o marinheiro, aquele que viajou grandes distâncias no espaço.

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Toda história nasce de uma viagem.

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O principal narrador de Coração das trevas é Marlow, um velho marinheiro que, a bordo de um navio impedido de continuar a navegação por condições naturais (mudança da maré, calmaria do vento), começa a contar uma história de sua vida aos seus companheiros de viagem, enquanto todos esperam as condições favoráveis para que o iole prossiga.

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Para nascer, toda história precisa de uma espera.

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A espera, definida no tempo, é um momento de iminência, de suspensão do presente e formação de um vácuo preparatório do porvir. É nessa espera que Marlow começa a narrar, mas sua narrativa não é, de modo algum, essa espera. A espera da narrativa é outra: definida no espaço, ela consiste na disposição corporal daquele que recebe a narrativa.

O leitor/ouvinte de uma narrativa tem de criar algum vácuo em si, nos movimentos do seu corpo, para poder receber a história que lhe é contada. É a espera da atenção, tal como a define Simone Weil: um olhar e não um apego.

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A história é uma força que preenche.

Um comentário:

  1. Curiosamente, tudo no romance é espera: os personagens vão, cada um deles, sendo desenhados aos poucos, do mesmo modo que vamos nos embrenhando aos poucos na escuridão da floresta. As próprias oposições não se mostram muito claras, porque não são personagens estereotipados - não há o "Bom" e o "Mau", a vida se coloca como uma escolha de pesadelos, dentro da idéia de que não existe nenhuma decisão que não tenha efeitos colaterais, que o que interessa é saber quais se está disposto, efetivamente, a assumir.

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