Parece que desde o acontecimento concretista, o que muito se dá valor é pra poesia culta - a personagem-poeta cultivando erudição, Haroldo de Campos de boinas com seu séquito / e os séquitos se sequitando. Em modos de produção de leitura que dragam tudo transformando tudo em diamante e make-it-new, de modo que o fazer anárquico de Paulo Leminski, o carcomido de Manuel Bandeira, o drenado de Orides Fontela, tudo se nivela à auto-satisfação do achievement (a conseguição do sucesso) poético / o poético um fenômeno que emana de si mesmo como uma luz abstrata que nada ilumina e não fabrica sombras. De repente estamos parnasianos?
A poesia, assim exercida, que exercício de avarezas. Pois avaro é aquele que delega ao mínimo a potência do máximo - e "ao mínimo", aqui, me refiro à técnica. A técnica é um acidente do Poeta. O Bardo é aquele que carrega, é o que anuncia e é o correnteza.
É lógico que o fazer carece lá da sua fita métrica e nível, mas engana-se quem acha que os melhores momentos de João Cabral ou Haroldo de Campos são grandes feitos da engenharia assim como deve ser a ponte Rio-Niterói ou qualquer outra grande estrutura de aço.
Ainda que João Cabral seja o grande poeta da engenharia (e um grande engenheiro da poesia), seus poemas não estão em débito com técnica alguma, nem são sustentados por aquelas colunas fortes para as quais basta um Sansão inspirado por deus para derrubá-las. Um poema como "O engenheiro" é as colunas tanto quanto é o herói que as destrói, e os fariseus que caem pra morte, o céu indiferente no Japão, a narrativa e a contranarrativa e a própria inspiração divina.
A poesia, assim exercida, que exercício de avarezas. Pois avaro é aquele que delega ao mínimo a potência do máximo - e "ao mínimo", aqui, me refiro à técnica. A técnica é um acidente do Poeta. O Bardo é aquele que carrega, é o que anuncia e é o correnteza.
É lógico que o fazer carece lá da sua fita métrica e nível, mas engana-se quem acha que os melhores momentos de João Cabral ou Haroldo de Campos são grandes feitos da engenharia assim como deve ser a ponte Rio-Niterói ou qualquer outra grande estrutura de aço.
Ainda que João Cabral seja o grande poeta da engenharia (e um grande engenheiro da poesia), seus poemas não estão em débito com técnica alguma, nem são sustentados por aquelas colunas fortes para as quais basta um Sansão inspirado por deus para derrubá-las. Um poema como "O engenheiro" é as colunas tanto quanto é o herói que as destrói, e os fariseus que caem pra morte, o céu indiferente no Japão, a narrativa e a contranarrativa e a própria inspiração divina.
O POEMA
A tinta e a lápis
escrevem-se todos
os versos do mundo.
Que monstros existem
nadando no poço
negro e fecundo?
Que outros deslizam
largando o carvão
de seus ossos?
Como o ser vivo
que é um verso,
um organismo
com sangue e sopro,
pode brotar
de germes mortos?
*
O papel nem sempre
é branco como
a primeira manhã.
É muitas vezes
o pardo e pobre
papel de embrulho;
é de outras vezes
de carta aérea,
leve de núvem.
Mas é no papel,
no branco asséptico,
que o verso rebenta.
Como um ser vivo
pode brotar
de um chão mineral?
(João Cabral de Melo Neto no livro O engenheiro)
O poema: um edifício / crescendo de suas forças simples. Como ser vivo de sangue e sopro, mas essencialmente inorgânico, o poema me interessa enquanto o ato de amor que ele é.
Calma lá: o que é o amor? Eros é a força primeira de união, no princípio uma molécula disse "sim" a outra molécula e aí se fez: o princípio. É o amor que move o Sol e as outras estrelas.
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