quarta-feira, 23 de julho de 2008

Apatia

O excesso de versos

insônia, ruminação

arruína?

As citações, as retomadas, as investidas

Tudo em torno da engrenagem burocrática de escrever

e de prazer

?


Temendo deste agosto o fogo e o vento
Caminho junto às cercas, cuidadosa
Na tarde de queimadas, tarde cega.
Há um velho mourão enegrecido de queimadas antigas.
E ali reencontro o louco:

- Temendo os teus limites, Samsara esvaecida?
Por que não deixas o fogo onividente
Lamber o corpo e a escrita? E por que não arder
Casando o Onisciente à tua vida?

"

3 comentários:

  1. Primeiro um sorriso pelo poema-pergunta-resposta.

    Ele é que não se perdeu, não se desembaraçou da pargunta, enroscada nos dois pontos, e ficou balançando junto com a gente na dúvida vai-e-vem.

    .

    N´outro passei mal por ver três homens dançando as mãos para tocar chorinho, e umas cem pessoas sentadas sem levantar prá uma remexida qualquer. Eu queria dançar mas meu namorado não quer porque não sabe. Senti raiva porque me pareceu que a música não estava sendo ouvida.
    Daí dois mendigos começaram a dançar loucamente. Eu aliviei de os ver. Depois um louco passou pela rua, subiu no pé da árvore, e começou a cantar com caras e bocas, a letra da música que eu não ouvia (ele não tinha microfone), mas que eu fica no gesto dos braços.
    Assim, prá que serve espaço, mato e música, se ninguém dança? O espaço sem coisas está para ser ocupado. E está definhando.
    Agora: cada muro em seu lugar, de-fine cada pedaço, mas isso não pode de-finir tudo que é nosso (ao menos é o que espero muito), para dançar é preciso ter espaço vago.

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  2. Devo ainda retratar: após ouvirmos muita música, nós dançamos, sem passos, até longe do ritmo, no meio da calçada. No dia seguinte, ele me tirou para uma dança na rodoviária.

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  3. Muitos romances e narrações que eu li instruíam-me bastante; eles têm um incontestável valor documentário, se os conflitos permanecem superficiais, pelo menos são focalizados. (...) A diferença entre o naturalismo e o realismo socialista está, em princípio, em que a primeira escola apresenta o mundo como um espetáculo fixado, enquanto a segunda o toma em seu dinamismo. Um autor, porém, pode traduzir o movimento da vida se ele mesmo não o segue? Mesmo que passe vários meses entre operários e camponeses, ele não se torna um deles: não é verdade que possamos nos identificar a outrem pelo exterior; uma condição ou é possuída em comum ou não é possuída. Escrever não é registrar um conhecimento, mas prolongar uma experiência.

    (Simone de Beauvoir, em A longa marcha)

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