sexta-feira, 4 de julho de 2008

Clarice Lispector, difícil de pegar


Quando eu li A via crucis do corpo, depois de já ter passado por A paixão segundo G.H., Laços de família, A hora da estrela e Perto do coração selvagem ao menos duas vezes cada, e de ter ouvido tudo quanto é opinião comum sobre "a Clarice" (o prenome íntimo que as pessoas usam tanto quanto a menção ao "olhar dela"), e numa época em que estava fortemente envolvido pelos textos de Hilda Hilst, sobretudo por sua "trilogia obscena", a primeira coisa que lembro de ter pensado, com essa mania de um pensar distanciado com que a faculdade de Letras nos impregna, mas também com raiva por perceber o quanto esse "pensar distanciado" é simplificador e abominável, eticamente falando, por domesticar textos de elevado potencial bélico, a primeira coisa que lembro de ter pensado foi: "


Clarice Lispector foi uma escritora. Não no sentido profissional da palavra. Foi escritora porque escreveu, só. Sem amarras, sem escolas, absolutamente texto. Escreveu por diversos gêneros, para diversos públicos, em diversos meios - e fiquei muito aborrecido e emburrecido com os comentários acerca do "intimismo", ou do "engajamento", ou do "feminino" e o escambau. Por que recusamos ser proféticas? E por que gostamos tanto d'"a Clarice" e prestamos tão pouca atenção no que seus textos nos esfregam na cara? Pornografia, denúncia social, auto-ajuda, filosofia, literatura, biografia. Crítica e consumismo. Sem vergonhas. Il mondo è bello perché è vario - e o trabalho de Clarice Lispector também. Intimistas são as opiniões da maioria de seus leitores, acostumados a se apropriar da "literatura" na privatização prática (hedonista ou utilitarista) das nossas expectativas mesquinhas e egocentradas.

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As fotos são da Júlia Hansen e podem ser vistas, mais outras, aqui

2 comentários:

  1. ay muy me encantan todxs lxs que so contrarios a la discriminación. aunque envien mensajes spam. no los discriminaré jamás.

    (el blog es una iniciativa muy bonita)

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  2. e na minha canja mais nada!
    um novo blog ou o novo blog?

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