segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A novíssima literatura



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É só um palpite.

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Quando a gente fala em "poesia de uma época", há uma questão que antecede a própria poesia, que é a seleção que fazemos do que vamos considerar "poesia" e relevante como tal.

Isso é a especificidade e o ônus de qualquer leitura geracional.

E tem também que o que a gente quer é a brasa na nossa sardinha.

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Mas então.

Esses dias eu percebi homogeneidades nas minhas referências.

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Do final dos anos 70 e começo dos 80 no Brasil, o que a gente escolhe hoje é a chamada poesia marginal, ou geração mimeógrafo, ou geração do desbunde. Poetas que circularam pelo Rio de Janeiro e talvez por São Paulo entranharam o tropicalismo como poética e, na tradição do modernismo de Oswald de Andrade, o humor como método.

Esse rasga-coração vai dar frutos tão maduros quanto a Ana Cristina Cesar, que faz lirismo de televisão, e o Paulo Leminski, que faz rockstar do poema.

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Nos anos 90, no entanto, a poesia mainstream bebe da obsessão formalista à Haroldo de Campos, dos impulsos épicos de Drummond e João Cabral e do acanhado melancólico de um Manuel Bandeira. Disso aparece uma dicção que, se eu fosse o Antonio Candido nos anos 40, eu diria "pouco viril".

Todo mundo está preocupado, então, com os insondáveis da linguagem o deslocamento do poeta no mundo contemporâneo ao mesmo tempo em que faz uma poesia de concisão que pretensamente deve se autobastar.

O épico no lírico sem épico sem lírico.

Drama.

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A galera que está sendo eleita hoje como a boa nova jovem poesia pela mídia dá risada dessa pretensão poética.

O ponto em comum com a poesia marginal talvez seja só o humor. Mas é um humor de outro modo, mais cínico e cético.

você me diz: nunca dês um nome a um trem
sempre é outro trem a passar
eu digo: ha. Ha ha
ha ha

(de "Rufus", do Ismar Tirelli Neto)

Ponto em comum com a poesia dos anos 90 são as referências literárias. Que são evocadas com certo descaso. Na verdade é mais uma briga com a Grande Poesia do que uma devoção solene às suas conquistas verbivocovisuais. O ponto em comum então, se é que existe, é mais temático, e não de método.

na banheira com gertrude stein

gertrude stein tem um bundão chega pra lá gertude
stein e quando ela chega pra lá faz um barulhão como
se alguém passasse um pano molhado na vidraça
enorme de um edifício público

gertrude stein daqui pra cá é você o paninho de lavar
atrás da orelha é todo seu daqui pra cá sou eu o patinho
de borracha é meu e assim ficamos satisfeitas

mas gertrude stein é cabotina acha graça em soltar pum
debaixo d’água eu hein gertrude stein? não é possível
que alguém goste tanto de fazer bolha

e aí como a banheira é dela ela puxa a rolha e me rouba
a toalha

e sai correndo pelada a bunda enorme descendo a
escada e ganhando as ruas de st.-germain-des-prés

(da Angélica Freitas, no Rilke Shake)


O verdadeiro descaso é com os cânones e a posição cânonica dxs Grandes Poetas. Legal que esta é uma geração extremamente escolarizada, jovenzinhos de classe média que cresceram num país em que se falou muito em democratização e, especialmente, democratização do ensino. E que escrevem dando de ombros às instituições.

a novíssima literatura


você quer um dia
ser estudado
numa sala de aula qualquer
por uma turma de pirralhos
que vão zoar suas roupas hoje modernas
falar que o que você escreveu é chato pra caralho
fazer chifrinho na sua foto
interrogação.

queira morrer antes
comendo caramelos
a estranha paixão de Hitler
caramelos.


(Me ocorreu agora que o hip hop não tem registro de humor. É só reparar na molecada de periferia vestida de rapper. Os meninos, principalmente. O próprio gingado da caminhada simula que se carrega um peso. A classe social também é um fator geracional.)

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adendo: esse poema da Bruna Beber é bastante citado por aí. Pra analisar a poesia contemporânea, mais legal acho que era analisar as reportagens que têm sido feitas sobre a poesia contemporânea. A leitura deste post vai por aí, especialmente na seleção dos poemas. Bom observar também que tem toda uma mancomunação implícita entre as editoras, os jornais, quero dizer, uma sardinha lava a outra. Legal também seria fazer um recorte geracional contra isso. Mas, ao mesmo tempo, tem também que eu não posso simplesmente fingir que nada me afeta e que eu não gosto desse tom isento e pueril dos poemas de hoje. Então bora fazer a nossa antítese.

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(Nota mental: e a prosa nesses termos? Deve ser divertido pensar no estrago que a Clarice Lispector fez na literatura séria, tudo quanto é contista e romancista atribulado com angústias interiores.)

3 comentários:

  1. cadê eu tou segurando o peru atravessando a rua decapitou caiu um iceberg icebergere folie barbaridade perdi meu brinco de princesa vou lá ler INFÂNCIA meu pai montava a cavalo

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  2. mas, sério, arrasou nas escolhas. poemas, escritores, linhas. 'rrasou.

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  3. Venho divulgar meu primeiro livro de poesias - VITRAL COLORIDO – EDITORA PROTEXTO-Melissa Morgana.
    “Poesias ternas, filosóficas, bem humoradas e com um toque de sensualidade”
    Compra pelo site da editora: www.protexto.com.br
    Mando por meio de comentário, porque não encontrei e mail
    Obrigada

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